A mala com meus pertences estava
pesada, não por excesso de bagagem… mas consegui leva-la até a porta. Abri, e
sem nenhum adeus ou remorso, parti.
Parti porque ali a dor doía todos os dias… Parti porque no
trabalho eu desconhecia instantes de felicidade a que todos os humanos têm
direito… Parti porque tinha de ir; minha terra minha cidade tinha e tem gosto de coronelismo, gosto de
servidão… Parti porque todos os dias eram paridos escravos e capachos.
E eu não concordava, nunca
concordei… Eu sofria por algo que não entendia, ou não queria entender, mas que doía – Minha cidade bonita, de gente hospitaleira
de bons serviçais, mas há também os súditos
de minúsculos e ignorantes “deuses.”
Voltei a minha vida, porque com estresse
todos nós adoecemos. Voltei para sepultar o tempo perdido e os poucos meus que
restaram… Voltei para ver que os coronéis, apesar de serem outros tempos, ainda
habitam nossa cidade – em Califórnia os
vassalos possuem novos rostos, mas dão continuidade ao passado. Voltei para
enxergar que o cenário, mesmo não sendo o de antes, continuava sendo habitado
pelo continuísmo imoral.
Não podemos retornar ao passado.
O tempo nos faz adoecer e cava a nossa sepultura. Mas devemos transitar entre a
indignação e a observação. Fico olhando de longe a terrícola nem tão antiga,
tão sem profundidade, tão rasa e por isso tão cheia de escravos, de capachos…
de ínfimo coronel!
Só para lembrar: Coronelismo é
um brasileirismo usado
para definir a complexa estrutura de poder que tem início no plano municipal,
exercido com hipertrofia privada – a figura do coronel – sobre o
poder público – o Estado –, e tendo como caracteres secundários o mandonismo, o filhotismo (ou apadrinhamento),
a fraude eleitoral e a desorganização dos serviços públicos .
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