Manifestantes contrários a Lula, um deles fantasiado de presidiário, tomam champanhe comemorando a condenação do ex-presidente na Praça dos Três Poderes, em Brasília (Foto: Ueslei Marcelino/Reuters)
A perspectiva de que um
ex-presidente da República vá para a cadeia, condenado por corrupção, é inédita
na história brasileira. O mais importante no julgamento em segunda instância de
Luiz Inácio Lula da Silva não é o resultado em si – a condenação era esperada
–, mas seu significado para o futuro do país.
A primeira consequência é
jurídica. Lula foi julgado e condenado como cidadão comum. Recorreu e perdeu.
Recorrerá de novo – e na certa perderá de novo. Nem sua popularidade nem sua
pré-candidatura à Presidência serviram para aliviar seu crime. Só isso, num
país com o histórico do Brasil, é motivo para celebração.
O voto do desembargador Leandro
Paulsen, revisor do caso no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, foi o mais
preciso ao ir ao cerne da questão. Lula foi beneficiário de propinas do
petrolão e um dos articuladores do esquema de desvio de dinheiro da Petrobras
em prol de partidos, políticos e empreiteiros desonestos.
As provas apresentadas no célebre
caso do triplex no Guarujá – o primeiro dos sete a que Lula precisa responder –
são abundantes, sobejas e não deixam muita margem a contestação. Por que,
perguntou Paulsen, alguém cuida da posição de uma escada ou da instalação de um
elevador privativo se não tem relação alguma com um apartamento? Foi aí que a
defesa de Lula esboroou.
De acordo com a lei, o crime de
corrupção fica provado apenas com a intenção de favorecer o agente público. Nem
é necessário que ele tenha recebido a propina, muito menos que o imóvel tenha
sido transferido de fato para Lula.
A condenação de Lula poderá,
portanto, entrar na história como marco simbólico do combate à corrupção em seu
mais alto nível. Ou como o início do ocaso desse combate – e da reação de
corruptos e corruptores para preservar o esquema de compadrio e privilégios por
meio do qual há décadas espoliam o país. Por Helio Gurovitz
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